segunda-feira, 19 de julho de 2010

Queixas contra implantes crescem em São Paulo

De acordo com matéria publicada no jornal Folha de São Paulo, no último sábado, 10 de julho, a utilização de materiais "piratas" e falta de perícia de profissionais estão entre as principais causas dos problemas.


Em cinco anos, a proporção de denúncias de implantes malfeitos triplicou no Crosp (Conselho Regional de Odontologia Paulista). Em 2004, uma em cada dez reclamações eram referente a implantes. Ano passado, as queixas na área representaram 30% do total de 305 recebidas pelo conselho. 
Hoje, 1 milhão de implantes são fixados por ano na boca dos brasileiros - 60% a mais do que se fazia há quatro anos, segundo a Associação Brasileira da Indústria Médico-Odontológica. 
O surgimento de clínicas populares, a oferta de mão de obra barata e despreparada em razão do excesso de faculdades de odontologia e a proliferação de implantes com peças "piratas" são apontadas como causas do aumento das reclamações. 
O resultado dessa salada russa pode ir muito além da perda do implante, que custa entre R$ 1.000 e R$ 3.000. A imperícia pode levar a lesões de nervos e infecções. 
A auxiliar de enfermagem Maria Aparecida de Carvalho, 40, que o diga. Há um ano, ela raspou a poupança para colocar cinco implantes, que custaram R$ 8.000 em uma clínica popular. Mas até hoje ela não conseguiu ter os tão sonhados dentes. 
Maria sofreu uma lesão no nervo dentário na mandíbula superior, que levou a uma paralisia na região. "Bebia alguma coisa e babava igual a um bebê." Ela denunciou o dentista ao conselho.
Segundo o cirurgião-dentista Luiz Antonio Cosmo, especialista em implantologia e da Academia Americana de Osseointegração, uma tomografia da região poderia ter evitado o problema. 
"Tem muita clínica instalando implante a todo custo. Colocam profissionais com pouca experiência, que usam peças inadequadas", diz ele.
Outro problema comum, segundo Cosmo, é a instalação de implantes na chamada ameia interdental (espaço entre um dente e outro), que compromete o alinhamento dos dentes restantes e, em geral, leva à perda do implante recém-colocado. 
Implantes fixados no osso zigomático (maçã do rosto), sem indicação precisa, também pode gerar infecção.
"Falta experiência e estudo. O profissional que faz implantes precisa conhecer prótese, cirurgia e periodontia. Um bom planejamento e equipamentos adequados, certificados, são cruciais."
"Pirataria"
De acordo com o cirurgião-dentista Rodolfo Candia Alba Júnior, diretor da Associação Brasileira de Indústria Médico-Odontológica, outro problema que preocupa são as peças piratas, produtos de contrabando ou fabricados sem o registro da Anvisa. 
"Muitas empresas viram na área um negócio promissor e estão fabricando peças sem regulamentação. São mais baratas, adquiridas por profissionais sem treinamento, que desconhecem os problemas que podem causar."
Alba Júnior explica que o implante "legal" tem um registro que sai de fábrica e é a garantia de que se trata de um produto de qualidade.
Segundo ele, em geral, não há problemas de qualidade com pino de titânio: desde que seja esterilizado, se integra facilmente ao osso.
O risco está nas conexões, componentes que serão encaixados ao implante e emergidos fora da gengiva para a colocação da prótese. 
"Se as conexões não tiverem qualidade, elas serão incapazes de sustentar o alto impacto gerado pela força de mastigação, por exemplo. Então, no prazo de seis meses a um ano, os parafusos se afrouxam com facilidade, e a peça solta o dente."
Fonte: Folha de São Paulo